"(...) a primeira coisa é ser honesto consigo mesmo. Você não pode nunca ter um impacto sobre a sociedade se não mudou a si próprio. (...)"
Nelson Mandela (1918 - 2013)
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Por mais cultura indígena nas escolas
Autor de mais de 40 livros, o premiado Daniel Munduruku
diz que educadores tendem a repetir estereótipos Daniel Munduruku cresceu nos anos 1960 na aldeia Katô,
interior do Pará, a 300 quilômetros de Belém. Criado entre outros índios
munduruku, teve um choque quando começou a frequentar uma escola primária na
capital paraense, onde era chamado pelos colegas de “selvagem” e “sujo”. Foi
sua primeira lição sobre o tratamento reservado aos índios no Brasil, conta ele.
— Eu quis deixar de ser índio. Mas meu avô me resgatou, contando histórias
sobre nossas tradições — lembra Munduruku, que a partir desse episódio escreveu
o livro “Meu vô Apolinário”, uma das mais de 40 obras que publicou.
Hoje, aos 49 anos, é ele que ocupa o lugar de contador de histórias. Ganhador
de um Jabuti e do prêmio Tolerância, concedido pela Unesco, entre outras
distinções, Munduruku levou algumas dessas narrativas nesta terça-feira para a
Bienal do Livro, onde participou da mesa “Guarani, Kaiowá e muitas mais —
Literatura de índio”, com Graça Graúna e Lucia Sá, no Café Literário.Munduruku costuma apresentar essas narrativas também em
palestras e cursos para educadores em todo o país, para combater o que vê como
“uma grande lacuna” no sistema de ensino brasileiro. Embora a lei 11.645,
aprovada em 2008, determine que as escolas devem incluir a cultura indígena no
currículo, o escritor nota que os professores não recebem a formação adequada
para isso.
— O professor tende a repetir os estereótipos: comemora o Dia do Índio, mostra
pintura corporal, oca e arco-e-flecha. Isso acaba perpetuando uma visão
preconceituosa dos povos indígenas como atrasados. A folclorização das
tradições indígenas joga por terra uma parte importante e dinâmica da cultura
brasileira — diz Munduruku, que estuda narrativas indígenas em um pós-doutorado
na Universidade Federal de São Carlos (SP).
Em seus livros, o escritor procura mostrar que “as narrativas tradicionais
estão vivas, não são coisa do passado” e que “o índio é um contemporâneo”.
Considera que a literatura pode ajudar a mudar a percepção que se tem do índio
no país. Mas avalia que a sociedade brasileira “ainda não acordou” para a
dimensão dos problemas vividos hoje pelos povos indígenas em território
nacional.
Cita como exemplo o dilema enfrentado pelos índios de sua terra natal. Em maio,
os mundurukus participaram da ocupação do principal canteiro de obras da usina
hidrelétrica de Belo Monte, ao lado de índios Xipaya, Kayapó, Arara e
Tupinambá. Eles protestavam contra a falta de diálogo com o governo e
procuravam alertar a sociedade para o impacto da construção sobre o Rio Xingu e
a falta de consulta prévia aos povos indígenas sobre a usina.Para Munduruku, a ocupação de Belo Monte foi uma
manifestação tão ou mais importante do que as ocorridas nas grandes cidades
brasileiras a partir de junho, porque nela os índios colocaram em discussão as
alternativas de futuro para o país.
— A ocupação em Belo Monte demonstrou consciência sobre o que está em jogo no
Brasil hoje. Não se tratava só daquela usina, existem projetos parecidos para
outras regiões. O alerta que os índios enviaram para o resto do país é que as
coisas podem piorar.
Os benefícios da cultura indígena no currículo escolar
A cultura indígena sempre esteve presente na história do Brasil desde os
primórdios, influenciando constantemente nas tradições do país. Considerando a
importância que a escola tem em estar constantemente em contato com as
tradições do país, eis a necessidade de inserir no currículo escolar os
elementos da cultura indígena.
Sancionada em 11 de março de 2008, a lei obriga as escolas a incluir elementos
da cultura indígena no currículo escolar, determina que os sistemas normativos
das culturas afro-brasileira e indígena integrem o conteúdo do Ensino
Fundamental e Médio, dando ênfase às áreas de Literatura, Artes e História,
tanto na rede particular quanto pública.
Tal exigência é vista como uma iniciativa rica que resgata uma questão
importante da escola, propiciando aos alunos maiores oportunidades de conhecer
o processo de construção do país, bem como compreender a história indígena do
passado e do presente, inclusive os aspectos positivos dessa população em
relação à cultura brasileira.
A lei tende a beneficiar a formação curricular, visto que irá gerar abordagens
inovadoras em relação à história indígena nas escolas.
Vale ressaltar que essa nova lei oferece ao aluno a oportunidade de reconhecer
as matrizes culturais que fizeram parte da história do seu país, pois a
abordagem realizada nas escolas estava voltada para a história europeia, sendo
desprezadas as sociedades africanas, sul-americanas que apresentam uma íntima
relação com a história do Brasil.
É de suma importância que os professores busquem meios de se informar a
respeito dessa cultura, tanto antigamente como na atualidade, podendo
desenvolver com seus alunos um trabalho competente e gratificante.
Trabalhar a questão indígena na escola é fazer com que o país conheça a si
próprio, oferecendo ao aluno condições para estar em contato com as tradições
de seu país, em especial o Brasil que apresenta uma rica cultura, buscando sua
valorização, promoção e preservação.
“Não há separação entre um rio, uma flor, um relâmpago. É tudo Vida, embora cada um ressoe a sua freqüência. É importante honrar qualquer forma de vida e reconhecer toda a vida que existe a nossa volta”
Sylvie Shining Woman
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